sábado, 13 de abril de 2013

Zugzwang


Zugzwang. Seu mantra. Sua filosofia de vida. Eu gostava da maneira como soava, mesmo antes de você me explicar o significado. Zugzwang. Parecia profundo, como se o som ecoasse na minha cabeça, mesmo muito tempo depois da palavra ser dita. Como se ela estivesse acompanhada de ecos infinitos. Como se as letras estivessem gravadas a fogo na minha mente. Z u g z w a n g.
No jogo de xadrez, zugzwang é uma situação em que o jogador não possui movimentos favoráveis. Nada que ele faça pode ser revertido em um benefício. É quando você percebe que está tudo perdido, você me disse, com o tom próprio de quem conta algo extremamente importante. Eu me lembro de você naquele momento. As barreiras que você construíra ao seu redor caindo, uma a uma. Lembro-me de cada minúsculo e desprezível detalhe daquela tarde que passamos juntos na cama. A luz entrava pela janela e fazia um carinho delicado sobre nossos corpos. Eu via um tremor nos seus olhos enquanto você me explicava. Você sussurrou a palavra, lançando-a no ar, me deixando no suspense, e só então começou a me ensinar sobre ela. Eu via como você estava ansiosa para que eu visse a dimensão do raciocínio. As palavras escapavam pela sua boca, que se contorcia em um sorriso, meio triste, meio ansioso. No fundo, cada gesto implorava para que eu entendesse. Você deixara as suas barreiras caírem esperava que eu compreendesse. E eu entendi. Eu entendi o que era zugzwang.
Nesse momento, você decide se sai do jogo ou se continua, mesmo sabendo que vai perder. Essa decisão faz toda a diferença. Foram essas as suas palavras exatas. Naquela hora eu não entendi bem. Esforçava-me para montar aquele quebra-cabeça, pare elucidar o mistério que você me propusera, mas a palavra ainda explodia pelos meus ouvidos, ensurdecedora, tirando minha concentração. Zugzwang. Zugzwang. Zugzwang. Zugzwang. Zugzwang. ZUGZWANG. Eu me lembro de que você me abraçou, e então, eu parei de pensar. Entreguei-me ao seu abraço, ao seu cheiro, ao compasso ritmado da sua respiração. Fizemos amor de uma maneira mais entregue um ao outro do que eu achei ser possível, e no momento em que nós dois estávamos prestes a adormecer, cobertos pelo fino cobertor de luz que penetrava pela janela, eu compreendi.
Agora já não importa mais.
É quando você percebe que está tudo perdido. Eu precisei de muitos anos para determinar o dia em que eu perdi, porém até hoje não fui capaz. Mas eu perdi. Agora já fazem muitos anos que você foi embora, mas eu entendi. Entendi a filosofia da perda. Como todos nós perdermos. E perderemos sempre. A vida é um jogo de derrotas. A diferença é que alguns de nós percebemos isso.
Nesse momento, você decide se sai do jogo ou se continua, mesmo sabendo que vai perder. Essa decisão faz toda a diferença.
Zugzwang. É quando você percebe que está tudo perdido. Alguns percebem isso. E vão até o fim. Continuam a jogar. Movimentam-se apenas para continuarem na partida. E isso faz toda a diferença. E ninguém pode perder fazendo a diferença.
Eu espero, de verdade, que você saiba que eu entendi. Espero que lembre de mim como aquele que soube ir até o fim.

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