Estendi a minha mão e a uni com a sua. Observei cada detalhe, cada
músculo do seu punho, cada veia canalizando o suave pulsar do sangue, cada um
dos seus dedos entrelaçados aos meus. A escuridão era a nossa testemunha, nossa
coberta, nossa confidente e nossa observadora, guardando os relatos sobre nós
nas suas entranhas.
A grama sobre qual nos deitávamos parecia estranhamente com um leito
matrimonial, o único que até então nós havíamos conhecido. O vento frio e cortante era
aparado pelas árvores, que se curvavam, como em reverência a nós. A lua lançava
uma tímida iluminação sobre os nossos rostos, desenhando o contorno da sua
face, as suas linhas de expressão, os seus olhos, os seus lábios. As pontas dos
meus dedos percorriam sua pele, suas veias, seus cabelos fartos, seus lábios
carnudos, seu nariz perfeito. Aos poucos, eu senti que meu toque se aprofundava mais e mais, que eu
tocava uma parte de você muito abaixo da superfície, tão longe de ser alcançada
quanto às nuvens do céu estão longe do chão. E eu sentia você me tocando da mesma maneira.
E de repente, não nos sentíamos apenas através do toque da pele.
O mundo girava, o céu hora acima, hora abaixo. Não havia mais pele entre
nós. As árvores, de repente, pareciam dançar ao ritmo de uma música inaudível, enquanto
o vento suspirava canções sobre o Amor, desse jeito mesmo, com “A” maiúsculo. E
de repente, a lua brilhava em matizes que nós nunca havíamos visto antes,
dotando nossos olhos de uma capacidade de visão inédita, enquanto ouvíamos as estrelas falarem todas ao mesmo tempo. Não estávamos nem acordados
nem adormecidos, mas em um estágio superior. Assistindo a tudo isso, a escuridão
engolia aquele momento, preservando tudo aquilo para sempre.
Não havia mais eu e não havia você, não havia mais distinção de corpos,
mentes e almas. Os nossos corações batiam unidos enquanto nos tornávamos um só.
Nunca fomos tão humanos quanto naquele momento, sendo um só ser, uma só
carne, nossas peles costuradas e nossos corações idem, enquanto sentíamos o mundo como nunca antes havíamos sentido. Era
pra viver aquele momento que havíamos nascido, e pra viver aquele momento que a
humanidade fora posta no mundo. Cada mistério da Criação parecia estranhamente simples e
desimportante, como se as repostas não importassem. O que importava era que nós
estávamos sentindo o universo fluir por entre nós. Não há palavra para o que
nós nos tornamos naquele momento.
Eu me tornei você, e você se transformou em mim. Nós, a lua, a grama, o vento,
as árvores, as estrelas, todos engolidos pela escuridão, que também fazia parte
de nós. Unos. Uno. No singular. Todos cantando em uníssono a canção do universo, aquela sobre o Amor,
assim mesmo, com “A” maiúsculo.
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